A Jornada de Travestis e Mulheres Transgênero em Constituir-se e Entrar no Mercado Formal de Trabalho
DOI:
https://doi.org/10.31211/interacoes.n47.2024.a1Palavras-chave:
Travestis, Mulheres Trangênero, Identidades, Diversidade, TrabalhoResumo
O objetivo deste trabalho foi analisar como a constituição discursiva das identidades transgênero femininas influencia na sua entrada no mercado de trabalho. A pesquisa qualitativa crítica foi desenvolvida a partir de entrevistas com travestis e mulheres transgênero (autoidentificadas) que trabalham ou já trabalharam em serviços de telemarketing, localizadas a partir de uma informante-chave e da técnica de bola de neve. Os dados foram analisados a partir das relações entre texto, prática discursiva e prática social, tomando por base definições da Análise Crítica do Discurso (ACD). Como resultados do trabalho, foi possível perceber que a atividade laboral no telemarketing possibilita que a voz se desprenda do corpo, que se apaga e, assim, também são apagadas – momentâneo e circunstancialmente – as práticas sociais discriminatórias. Nesta direção, a proposta emancipatória de reivindicar a voz fora desses espaços auxiliaria na eliminação da condição de latência da discriminação. A análise também permitiu a reflexão de como a constituição das identidades transgênero – na crítica do que hierarquiza seus corpos e vidas como inferiores – também tem transformado o social. A dialética desta relação aponta a fluidez das identidades transgênero e os aspectos que as inferiorizavam têm sido reinterpretados.
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