O Mito Trágico de Salvador Dalí
DOI:
https://doi.org/10.31211/interacoes.n37.2019.a5Palabras clave:
Salvador Dalí, mito privado, Angelus de Millet, criança de substituição, psicanáliseResumen
Este artigo propõe uma leitura crítica da autoanálise esboçada por Salvador Dalí na obra "O mito trágico do Angelus de Millet" à luz da interpretação de uma dinâmica familiar sob o primado da fantasia do infans de substituição. Sugere-se que esta narrativa, elaborada segundo o método paranoico-crítico, sobrepõe mito pessoal e ficção, alegoria omnipotente e reinterpretação delirante da saga familiar trágica, de uma díade mãe-filho permeada pela evocação histórica do "resgate" fantasmático de um irmão morto nove meses antes do seu nascimento. Foram triangulados excertos do texto sobre o Angelus, dados biográficos e aportes de Bion sobre a importância dos mitos privados na construção da identidade. Conclui-se que Dalí ensaiou a aproximação a outra dimensão do imago materno, que os outros escritos e atos autobiográficos aparentam contradizer, mais precisamente a Mãe Antígona que "enterra" o corpo do filho in statu nascendi sob o olhar cúmplice e impotente do pai. Realça-se a importância de Gala como figura da Anunciação de destino trágico-grandioso, segundo a mística bíblica do "Filho Unigénito do Pai", solução romanceada, de cariz surrealista e delirante, para aquela que terá sido a problemática central da sua existência, a condição de criança de substituição de um Outro temido e desconhecido.
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